quarta-feira, 16 de março de 2011

Casa do Futuro - Mafra

O LUGAR E OS CONDICIONANTES

A proposta de intervenção para os espaços exteriores da “Casa do Futuro”, desenvolve-se numa área total de cerca de 5674,5m2 (área obtida retirando à área total do lote, de cerca de 6118,7m2, a área de implantação da moradia, de cerca de 444,2m2).

O lote localiza-se em Ribamar, Freguesia da Ericeira, Concelho de Mafra, numa situação de meia encosta, possuindo uma topografia de pendentes moderadamente acentuadas, na generalidade com inclinações inferiores a 15%, encontrando-se a cota mais alta na extremidade nordeste do lote (107.83m) e a cota mais baixa na extremidade poente (88.90m).

Do interior do lote, em especial da área central, aberta para a paisagem, obtêm-se vistas privilegiadas sobre a envolvente verdejante, a praia, o mar, e o horizonte.

Os ventos são frequentes e por vezes bastante intensos, verificando-se amplitudes térmicas elevadas associadas tanto à condição geográfica, com franca exposição solar, como à influência oceânica.

Os solos são argilosos, compactos, apresentando muito fraca capacidade de infiltração.

Do ponto de vista fitogeográfico a intervenção localiza-se na Província Costeiro-Lusitano-Andaluza, Sub-Província Portuguesa-Sadense, Sector Divisório Português, Sub-Sector Oeste-Estremenho; Super-Distrito Olissiponense, de bioclima termomediterrânico superior e ombroclima sub-húmido, sendo o Querco cocciferae-Junipereto turbinatae sigmetum uma das séries de vegetação mais características desta região.


O CONCEITO

O jardim da Casa do Futuro concebe-se como interface entre a casa e a paisagem. Trata-se do estabelecimento de uma dialéctica de cores, volumes, formas, de articulação entre espaços, onde interior e exterior por um lado se fundem, e por outro, se autonomizam.



Em torno da casa, o espaço é essencialmente aberto e plano, sobressaindo a horizontalidade do volume edificado por relação aos planos que o envolvem, sendo que a continuidade entre interior e exterior se estabelece pela percepção da amplitude dos espaços criados.

As áreas pavimentadas, tratadas com pequenas plataformas poligonais, dispostas contíguas ao edifício, ou pontualmente desligadas dele, permitem, pela articulação entre planos verdes e plataformas pavimentadas, um princípio para a definição de um gradiente de diluição do espaço construído.

O conjunto de planos verdes e pavimentados onde se insere a habitação fica limitado a nascente e a norte por planos verticais definidos por muros brancos, que se desmaterializam e demarcam da horizontalidade do plano por uma faixa de seixo branco que se prolonga para poente, rematando o espaço aberto para a paisagem.

Em torno desta área, surgem remates arbustivos onde a linguagem de cores, formas, e volumes, se coordena tanto com a morfologia do terreno como com a natureza da paisagem envolvente.

Acompanhando a área de entrada desenvolve-se uma faixa arbustiva de tonalidades de verde-escuro entrecortada por tons de glauco, tornando-se indistinto o verdadeiro limite do lote pela fusão cromática deste com a paisagem que lhe é exterior.


A poente, onde o espaço se abre mais plenamente para a paisagem, e os declives no interior do lote se acentuam formando um talude cuja armação se faz com pedras extraídas do próprio local, o revestimento arbustivo assume-se como pontuação pictórica de maciços de pequena volumetria de tons essencialmente glaucos e floração de tons de azul e lilás, constituindo-se como superfície evocativa da visibilidade e presença do mar.

Na sua totalidade, a harmonia de espaços criada vive do equilíbrio que se desenvolve entre horizontalidade e verticalidade: pela horizontalidade marca-se a continuidade, a abertura e a amplitude dos espaços; pela verticalidade acentua-se a noção de ruptura e de sucessão de planos.

Os muros brancos, utilizados para delimitar e estruturar o terreno, são um dos componentes essenciais deste carácter de verticalidade, produzindo-se, pela sucessão de planos, um jogo de linhas e de faixas verdes e brancas, verticais e horizontais, que se dilui para além dos limites do lote nos tons de verde da paisagem.

A vegetação proposta associa-se a esta linguagem, recorrendo-se a conjuntos de alinhamentos arbustivos de cores e formas contrastantes aplicados junto aos muros e à definição de planos vegetais verticais conseguidos com espécies trepadeiras.


As árvores, componentes primordiais da estrutura volumétrica do espaço, distribuem-se lateralmente à área plana central, em conjuntos arbóreos, em clara harmonia com a paisagem envolvente.

Tal como sucede com os arbustos, as árvores são utilizadas em conjuntos e em alinhamentos de uma mesma espécie de forma a obter um efeito de “bloco”, de leitura imediata, dado o contraste de formas e de cores.

A sul, na zona de entrada, localiza-se o primeiro conjunto arbóreo constituído por duas espécies fortemente contrastantes na forma e na cor: o pinheiro-manso (Pinus pinea) e o choupo-branco-piramidal (Populus alba var. pyramidallis).

Os pinheiros mansos, uma das espécies mais características da paisagem local, com as suas copas densas de forma muito definida, marcam a entrada no espaço, como se a própria paisagem progredisse um pouco para o interior do jardim, contida pela barreira formada pelos dois alinhamentos perpendiculares de choupos que se dispõem de seguida.

Pela distribuição dos exemplares consegue-se um efeito de antecâmara de entrada no espaço, uma área de transição onde se fundem e cruzam propriedades características do interior (do jardim) e do exterior (da paisagem).

O segundo conjunto arbóreo, composto por freixos (Fraxinus angustifolia) e por dois exemplares de Acer pseudoplatanus, ambos de copas de tons de verde intenso, localiza-se na transição entre as áreas planas mais significativas do espaço: a área central de inserção da habitação, e a área de implantação do polidesportivo de exterior.

Trata-se de uma segmentação volumétrica do espaço, que se alia à sua distinta funcionalidade, ao mesmo tempo que, por relação ao maciço arbóreo de pinheiros e eucaliptos presente no exterior, se produz, mais uma vez, um efeito de estreita continuidade com a paisagem.

Da articulação entre planos horizontais e verticais, áreas abertas e fechadas, luminosas e sombrias, e do equilíbrio entre harmonias e contrastes e relações de continuidade com a paisagem, produz-se no interior deste jardim um conjunto de experiências de apreensão do espaço distintas, potenciado, por sua vez, pela variação sazonal da vegetação.

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