A proposta de intervenção para os espaços exteriores da “Casa do Futuro”, desenvolve-se numa área total de cerca de 5674,5m2 (área obtida retirando à área total do lote, de cerca de 6118,7m2, a área de implantação da moradia, de cerca de 444,2m2).
O lote localiza-se em Ribamar, Freguesia da Ericeira, Concelho de Mafra, numa situação de meia encosta, possuindo uma topografia de pendentes moderadamente acentuadas, na generalidade com inclinações inferiores a 15%, encontrando-se a cota mais alta na extremidade nordeste do lote (107.83m) e a cota mais baixa na extremidade poente (88.90m).
Do interior do lote, em especial da área central, aberta para a paisagem, obtêm-se vistas privilegiadas sobre a envolvente verdejante, a praia, o mar, e o horizonte.
Os ventos são frequentes e por vezes bastante intensos, verificando-se amplitudes térmicas elevadas associadas tanto à condição geográfica, com franca exposição solar, como à influência oceânica.
Os solos são argilosos, compactos, apresentando muito fraca capacidade de infiltração.
Do ponto de vista fitogeográfico a intervenção localiza-se na Província Costeiro-Lusitano-Andaluza, Sub-Província Portuguesa-Sadense, Sector Divisório Português, Sub-Sector Oeste-Estremenho; Super-Distrito Olissiponense, de bioclima termomediterrânico superior e ombroclima sub-húmido, sendo o Querco cocciferae-Junipereto turbinatae sigmetum uma das séries de vegetação mais características desta região.
O CONCEITO
O jardim da Casa do Futuro concebe-se como interface entre a casa e a paisagem. Trata-se do estabelecimento de uma dialéctica de cores, volumes, formas, de articulação entre espaços, onde interior e exterior por um lado se fundem, e por outro, se autonomizam.
As áreas pavimentadas, tratadas com pequenas plataformas poligonais, dispostas contíguas ao edifício, ou pontualmente desligadas dele, permitem, pela articulação entre planos verdes e plataformas pavimentadas, um princípio para a definição de um gradiente de diluição do espaço construído.
O conjunto de planos verdes e pavimentados onde se insere a habitação fica limitado a nascente e a norte por planos verticais definidos por muros brancos, que se desmaterializam e demarcam da horizontalidade do plano por uma faixa de seixo branco que se prolonga para poente, rematando o espaço aberto para a paisagem.
Em torno desta área, surgem remates arbustivos onde a linguagem de cores, formas, e volumes, se coordena tanto com a morfologia do terreno como com a natureza da paisagem envolvente.
Acompanhando a área de entrada desenvolve-se uma faixa arbustiva de tonalidades de verde-escuro entrecortada por tons de glauco, tornando-se indistinto o verdadeiro limite do lote pela fusão cromática deste com a paisagem que lhe é exterior.
A poente, onde o espaço se abre mais plenamente para a paisagem, e os declives no interior do lote se acentuam formando um talude cuja armação se faz com pedras extraídas do próprio local, o revestimento arbustivo assume-se como pontuação pictórica de maciços de pequena volumetria de tons essencialmente glaucos e floração de tons de azul e lilás, constituindo-se como superfície evocativa da visibilidade e presença do mar.
Na sua totalidade, a harmonia de espaços criada vive do equilíbrio que se desenvolve entre horizontalidade e verticalidade: pela horizontalidade marca-se a continuidade, a abertura e a amplitude dos espaços; pela verticalidade acentua-se a noção de ruptura e de sucessão de planos.
Os muros brancos, utilizados para delimitar e estruturar o terreno, são um dos componentes essenciais deste carácter de verticalidade, produzindo-se, pela sucessão de planos, um jogo de linhas e de faixas verdes e brancas, verticais e horizontais, que se dilui para além dos limites do lote nos tons de verde da paisagem.
A vegetação proposta associa-se a esta linguagem, recorrendo-se a conjuntos de alinhamentos arbustivos de cores e formas contrastantes aplicados junto aos muros e à definição de planos vegetais verticais conseguidos com espécies trepadeiras.
As árvores, componentes primordiais da estrutura volumétrica do espaço, distribuem-se lateralmente à área plana central, em conjuntos arbóreos, em clara harmonia com a paisagem envolvente.
Tal como sucede com os arbustos, as árvores são utilizadas em conjuntos e em alinhamentos de uma mesma espécie de forma a obter um efeito de “bloco”, de leitura imediata, dado o contraste de formas e de cores.
A sul, na zona de entrada, localiza-se o primeiro conjunto arbóreo constituído por duas espécies fortemente contrastantes na forma e na cor: o pinheiro-manso (Pinus pinea) e o choupo-branco-piramidal (Populus alba var. pyramidallis).
Os pinheiros mansos, uma das espécies mais características da paisagem local, com as suas copas densas de forma muito definida, marcam a entrada no espaço, como se a própria paisagem progredisse um pouco para o interior do jardim, contida pela barreira formada pelos dois alinhamentos perpendiculares de choupos que se dispõem de seguida.
Pela distribuição dos exemplares consegue-se um efeito de antecâmara de entrada no espaço, uma área de transição onde se fundem e cruzam propriedades características do interior (do jardim) e do exterior (da paisagem).
O segundo conjunto arbóreo, composto por freixos (Fraxinus angustifolia) e por dois exemplares de Acer pseudoplatanus, ambos de copas de tons de verde intenso, localiza-se na transição entre as áreas planas mais significativas do espaço: a área central de inserção da habitação, e a área de implantação do polidesportivo de exterior.
Trata-se de uma segmentação volumétrica do espaço, que se alia à sua distinta funcionalidade, ao mesmo tempo que, por relação ao maciço arbóreo de pinheiros e eucaliptos presente no exterior, se produz, mais uma vez, um efeito de estreita continuidade com a paisagem.
Da articulação entre planos horizontais e verticais, áreas abertas e fechadas, luminosas e sombrias, e do equilíbrio entre harmonias e contrastes e relações de continuidade com a paisagem, produz-se no interior deste jardim um conjunto de experiências de apreensão do espaço distintas, potenciado, por sua vez, pela variação sazonal da vegetação.
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